22/12/2015

Plenitude do Espírito

LEIA: Efésios 5.15-21

Algumas pessoas creem na atualidade dos dons espirituais mas não buscam ou, mesmo, não exercem aqueles que lhes foram comunicados pelo Espírito. Poderíamos enumerar muitas razões para esse esvaziamento espiritual no entanto, talvez a crise do pentecostalismo seja suficiente para compreendermos isso. Abusos e mais abusos praticados nas igrejas pentecostais e neo-pentecostais são atribuídos ao Espírito. Não há como negar, o pentecostalismo caiu no descrédito.

Todavia, mesmo diante dos argumentos cessacionistas, a Bíblia nos encoraja a nos enchermos do Espírito Santo e a buscarmos os seus dons incessantemente. Estes, são comunicados gratuitamente para a edificação do corpo de Cristo. Mas isso não acontece de forma mecânica, devemos desejá-los, buscá-los de maneira fervorosa. O movimento pentecostal moderno comprova isso. Pessoas queriam mais de Deus e o resultado foi um derramar poderoso do Espírito Santo em uma pequena igreja localizada na Rua Azusa, centro de Los Angeles, Estados Unidos no ano de 1906.

Esse movimento, marco do pentecostalismo moderno, pregava o batismo com o Espírito Santo manifestado através dos dom de línguas. A grande contribuição desse movimento liderado por William Seymor, ex-escravo e líder da Missão da Fé Apostólica, no entanto, foi o evangelicalismo. Imediatamente o movimento ultrapassou as fronteiras estadunidenses e chegou a outros países, inclusive ao Brasil no início do século XX com Louis Francescon e de Daniel Berg e Gunnar Vigren, fundadores da Assembleia de Deus.

Dada a influência desse movimento passou-se a ensinar nas igrejas brasileiras que alguém recebia o Espírito Santo a partir do momento que falasse em uma outra língua. Esse seria o Batismo com o Espírito Santo. No entanto, Paulo ensina aos coríntios que nem todos falarão outras línguas (1Coríntios 12.30). Mas terão o Espírito Santo pois, afinal, como ele próprio também ensinou aos coríntios, ninguém pode dizer que "Jesus é Senhor" se não for por intermédio do Espírito (1Coríntios 12.3).

Uma coisa é possuir o Espírito Santo, outra é ser possuído por Ele! E essa é ordem de Paulo para os Efésios: "(...) mas deixem-se encher pelo Espírito" (Efésios 4.18). A plenitude do Espírito, pois, é um processo contínuo em nossas vidas (o verbo está no presente contínuo). Devemos nos abstermos do vinho ou de qualquer outra coisa que nos cause embriaguez. Não é algo mecânico, deve ser buscado. Deve-se, portanto, existir condições para que haja um derramamento do Espírito sobre nós. Poderíamos, ao menos destacar duas condições básicas presentes no texto:


  • COMUNHÃO - (cf. Efésios 2.16,19; 4.1-5): O movimento da Rua Azusa tinha essa característica. Seymour, um ex-escravo, pastoreava uma igreja de maioria negra mas que rapidamente passou a receber brancos em seu meio. As mulheres também passaram a desfrutar de maior prestígio no corpo e, assim, a exercer determinadas funções que, outrora, eram atribuída a homens apenas. Os avivamentos alcançam nações mas iniciam-se em pequenas igrejas, em pequenos grupos nos quais todos devem desejar a Plenitude do Espírito. Entretanto, se considerarmos o contexto atual da igreja brasileira isso parece uma utopia. A cada dia cresce o número de desigrejados. Interesses individuais suplantam os interesses coletivos. Precisamos romper essa cadeia se queremos mais de Deus;

  • SANTIDADE - (cf. Efésios 4.17 ss): Santificação implica separação! "Os dias são maus", diz Paulo (Efésios 5.16). Alguém tem qualquer dúvida sobre isso? Absolutamente! Temos observado uma crescente hostilidade aos valores cristãos. O próprio Paulo escreveu aos romanos: "Não se amoldem ao padrão desse mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus" (Romanos 12.2). Para tanto, devemos aproveitar ao máximo cada oportunidade (Efésios 5.16) de buscarmos a Deus através da leitura da Palavra, da oração. As pessoas na Rua Azusa oravam cerca de 5 horas por dia para receber a Plenitude do Espírito. O que dizer então dos Morávios cuja vigília de oração durou cem anos!

Portanto, se queremos servir a Deus verdadeiramente, se queremos ser útil no corpo de Cristo precisamos do Espírito Santo e de seus dons. Para receber sua Plenitude, é imprescindível comunhão e santificação. Condições sine qua non e evidências claras daqueles que desejam ser cheios do Espírito Santo.

02/12/2015

Fechado para balanço: Reflexões sobre o tempo (Parte 1)

LEIA: Salmo 90

Estamos nos aproximando do final de 2015 e, portanto, do momento em que nos fechamos para fazer um balanço do nosso ano. Reconhecer aquilo que erramos e acertamos, aquilo que fizemos e deixamos de fazer. Em suma, o que fizemos durante os quase 365 dias que tivemos em 2015. Como aproveitamos esse tempo. De outro modo, soubemos aproveitá-lo? Vivemos nossa vida como se não houvesse amanhã? Ou então, deixamos tudo para amanhã? Para nos ajudar a responder essas e outras questões, vamos meditar o Salmo 90. Urge, pois, encontrarmos respostas. Afinal, 2016 está às portas e precisamos planejá-lo.

A autoria do salmo 90 é atribuída à Moisés que deve tê-lo composto durante a peregrinação no deserto. Ele viu muitas montanhas pelo caminho e o fato de descrevê-las sistematicamente no texto o credencia como autor. No entanto, é provável que tenha havido revisões do texto até que se chegasse à sua versão final. Nesse salmo, há um nítido contraste entre a eternidade de Deus e a brevidade do homem. O tempo é, assim, analisado tanto em função de Deus quanto do homem. Por ora, vamos nos ater à reflexão do tempo sob a perspectiva humana considerando, inicialmente, algumas verdades incontestes à luz do texto:

1. A vida é breve (v.5,6); 
2. A vida é frágil (v.3); 
3. A vida é ilusória (v.7,8,9);
4. A vida é fadiga (v.10).

Mas o que faz a vida humana ser desse jeito? Por qual razão o salmista a vê de forma tão pessimista? Por causa das nossas iniquidades que, expostas à presença de um Deus Santo, são punidas. Em outras palavras, o pecado (desde o Éden) é o responsável pela nossa vida breve, frágil, ilusória e fatigada. Por isso, podemos estar chegando ao final do ano dessa forma: cansados, desanimados, frustados. Planejamos muito e executamos pouco. Não nos atentamos para as nossas limitações. Talvez assumimos muitos compromissos, mais daquilo que poderíamos honrar. Talvez não estabelecemos claramente nossas prioridades ou, então, colocamos como prioridade o que não era. Talvez ainda, superestimando nossa capacidade acabamos por exaurir nossas forças. Todas essas possibilidades, no entanto, nos mostra uma verdade inconsteste: não sabemos (e não soubemos) aproveitar satisfatoriamente nosso tempo.

Os dias são maus por isso precisamos remir o tempo (Efésios 5.16). Em outras palavras, saber administrá-lo. É exatamente isso que Moisés pede a Deus no v.12: "Ensina-nos a contar nossos dias, para que alcancemos coração sábio." Precisamos assim, dar-nos conta da brevidade da vida para que possamos saber vivê-la. Precisamos reconhecer nossas limitações para superá-las. No entanto, esse exercício não pode ser feito a partir de esforços humanos apenas. Precisamos, dessa vez, olharmos o tempo sob a ótica divina. Somente assim, poderemos planejar eficazmente o que virá.

25/11/2015

A parábola do credor incompassivo

LEIA: Mateus 18.21-35

Em certa ocasião, Pedro aproxima-se de Jesus e pergunta-lhe quantas vezes deveria perdoar a um irmão que havia pecado contra ele. A forma pela qual Pedro faz a pergunta denota claramente que ele sabia que se deveria perdoar. Mas quantas vezes? A pergunta quase em tom de afirmação diz: "Até sete vezes?" (v.21). Mas Jesus esclarece: "setenta vezes sete" (v.22). Em outras palavras, inúmeras vezes!

Para que Pedro - e a nós mesmo - compreendesse realmente suas palavras, Jesus lança mão de uma estória, a parábola do credor incompassivo. Mas o que essa estória, de fato, tem a nos ensinar hoje? E o que ela tem a ver com perdão? 

O ensino principal da parábola do credor incompassivo é a magnitude da misericórdia de Deus que deve refletir em seu povo. Em outras, por receber infinita misericórdia de Deus devemos, igualmente, exercer misericórdia para com as pessoas. Não proceder assim pode nos deixar em situação difícil diante de Deus. Mas antes de compreender isso, compreendamos a parábola.

A parábola do credor incompassivo é contada em 4 atos os quais, em cada um, é possível extrair lições que lançam luz sobre o seu propósito principal. Senão vejamos:

ATO 1 - AJUSTES DE CONTA ENTRE UM REI E OS SEUS SERVOS (vv. 23-27): Um rei resolve ajustar contas com seus servos, um a um, até que lhe é trazido um cuja dívida é de dez mil talentos. Aqui é necessário um esclarecimento acerca desse valor. O talento equivalia a trinta e cinco quilos e correspondia a seis mil denários. Por sua vez, o denário era uma moeda de prata equivalente à diária de um trabalhador braçal. Portanto, dez mil talentos trata-se de uma enorme quantidade de prata, a saber, trezentos e cinquenta mil quilos de prata. Poderia-se ainda, equipará-lo a sessenta milhões de denários entendido como sessenta milhões de dias trabalhados. Para se ter ideia, dez mil talentos representa aproximadamente dez anos de arrecadação do Império Romano (Estima-se que anualmente os romanos arrecadavam novecentos talentos). Dívida impagável mas certamente contraída de forma ilícita! O servo do rei não tinha como saldá-la a não ser que ele próprio vendido, sua mulher, seus filhos e tudo o que possuía. O rei emitiu tal sentença amparado pela Lei (Êxodo 21.2; Levítico 25.39; 2Reis 4.1; Neemias 5.5; Isaías 50.1). O servo pede um tempo ao rei para pagar sua dívida (v.26). O rei, por sua vez, compadecido o perdoa de toda a dívida pois sabia que jamais teria condições de pagá-la. A nossa dívida com Deus era impagável também. Na cruz, porém, ela foi paga de forma cabal. Fomos justificados e não devemos mais nada diante do Tribunal de Deus. Mas o que aconteceu com o servo perdoado?

ATO 2 - AJUSTES DE CONTA ENTRE O SERVO PERDOADO E UM DOS CONSERVOS (vv. 28-30): Descendo as escadarias do palácio real, o servo perdoado encontra um de seus conservos. Esse homem devia a ele cem denários. Um dívida pagável, por assim dizer. Cem dias de trabalho e aquela poderia ser paga. A atitude do servo perdoado é muito hostil. Ele agarra e sufoca o seu conservo e, diante de muitas pessoas, exige veementemente que a dívida seja paga. Aquele homem não tinha como pagá-lo naquele momento e o pede um tempo assim como ele próprio o fez diante do rei. No entanto, incompassivo, não atende o pedido o lança em prisão até que a dívida fosse saldada (v.30). O homem que recebera misericórdia, por sua vez, não a exerce. Antes, quer justiça! Como pode em tão pouco tempo esquecer-se do favor do rei? A atitude dele no ensina que Deus faz sempre mais (Efésios 3.20) mas nós fazemos sempre menos! Mas tal atitude ficaria impune? Certamente que não!

ATO 3 - A DESAPROVAÇÃO DAS TESTEMUNHAS (v.31): Aquelas pessoas que testemunharam o ocorrido, seus próprios companheiros, desaprovaram sua atitude. Sabiam que ele fora perdoado mas, naquele instante, quando teve oportunidade de ser coerente e, portanto, perdoar não o fez. Quantas vezes não agimos segundo esse homem? Nossa dívida também impagável foi perdoada por Deus. Fomos (e somos) alvo de sua misericórdia mas, ao invés de exercê-la, exigimos justiça cheios de razão, como aquele homem, afinal ele estava cobrando algo que outro lhe devia. No entanto, se levarmos tudo sempre ao "pé da letra" corremos o risco de nos tornar tiranos e a exigir do outro aquilo que não podemos oferecer. Nossas contradições, no entanto, não passam despercebidas pelos outros. Aquelas pessoas, observando a desagradável cena, entristeceram-se e relataram tudo ao rei. Qual seria dessa vez a atitude do rei diante do acontecido? Exerceria misericórdia novamente?

ATO 4 - A REVOGAÇÃO DO PERDÃO (v.32-34): Ao tomar conhecimento do caso, o rei o manda chamar imediatamente e lhe cobra explicações. Ao parece, aquele homem não diz nada ao rei. Este, muito indignado, o entrega a verdugos, carrascos incumbidos de cumprir na prática as sentenças emitidas. O perdão dado pelo rei àquele homem fora revogado. A dívida, portanto, teve de ser paga. Ele seria então torturado até que saldasse suas pendências. O servo outrora livre encontra-se, dessa vez, aprisionado justamente por aprisionar o outro. Isso implica que se não exercemos devida misericórdia sobre os outros poderemos atrair juízos sobre nós. Jesus encerra a parábola dizendo exatamente isso (v.35). Devemos, pois, perdoar assim como Ele nos perdoou (Mateus 6.12) para que o nosso perdão não seja revogado. 

Jesus quis ensinar a Pedro (e também a nós) que devemos perdoar nossos irmãos quantas vezes forem necessárias. Fomos libertos do pecado mas ainda pecamos e carecemos do perdão todos os dias. Portanto, não podemos exigir justiça do outro e requerer misericórdia de Deus. Não podemos deixar que as mágoas embruteçam nosso coração. Mas ainda que embrutecido, nosso coração deve perdoar, por responsabilidade. Afinal, como discípulos de Cristo devemos imitá-lo. Refletir em nossas práticas o infinito amor que Ele manifesta em nós sem medida.

19/11/2015

A plena certeza da Salvação


Tornar-se membro de uma igreja não dá a ninguém a certeza da salvação. Essa certeza, por sua vez, é adquirida através de um processo contínuo de crescimento da vida cristã. Quando experimentamos o novo nascimento, do ponto de vista espiritual, somos crianças. No entanto, vamos nos desenvolvendo e progredindo na fé até chegar à maturidade, qual seja, a vida adulta. É exatamente nesse momento que passamos a ter plena certeza da nossa salvação. 

O autor da Epístola aos Hebreus desejava que os seus leitores obtivessem essa certeza (Hebreus 6.11). No entanto, a julgar pela realidade observada entre eles isso era algo improvável. Eles haviam se tornado indiferentes, negligentes e inertes. Não viam-se neles, portanto, progresso. Por isso, o autor teve de exortá-los não, sem antes, repreendê-los e preveni-los.


1. A REPREENSÃO (Hebreus 5.11-14): Os cristãos hebreus deveriam estar aptos para ensinar quando ainda deviam ser ensinados. Haviam desperdiçado o tempo com assuntos secundários, eram imaturos;

2. A PREVENÇÃO (Hebreus 6.4-8): Os cristãos hebreus deveriam olhar para aqueles que, pela fé, herdaram as promessas (Hebreus 6.12). No entanto, estavam olhando para aqueles que haviam caído (Hebreus 6.6). Não sabemos se esses eram crentes falsos ou crentes verdadeiros (que se apostataram), mas sabemos que:
  • Foram iluminados;
  • Provaram o com celestial;
  • Tornaram-se participantes do Espírito Santo;
  • Provaram a Palavra de Deus;
  • Provaram os poderes do mundo vindouro. 

Alguém pode experimentar tudo isso mas rejeitar! Lembre-se: o único pecado que não tem perdão é a blasfêmia contra o Espírito Santo (Mateus 12.31). Esse, portanto, é pecado para a morte (1João 5.16). Rejeição é, assim, condenação.

3. A EXORTAÇÃO (Hebreus 6.1-3; 9-20): Os cristãos hebreus deveriam buscar o que é perfeito (Hebreus 6.1). Nesse momento, é oportuno dizer que o assunto principal da carta é a superioridade de Cristo sobre toda e qualquer forma de revelação e redenção do AT. Portanto, é n'Ele que deveriam fixar os olhos (Hebreus 12.2). Os resultados:

O autor conclui sua exortação destacando as promessas de Deus (Hebreus 6.13-20). Para confirmar suas promessas, Deus jurou por Ele próprio. Da nossa parte, temos de nos apegar ao juramento de Deus. A vida eterna é o juramento de Deus para aqueles que creem em Jesus, nossa âncora, lançada através do véu, onde Cristo entrou. Nossa alma, assim, está presa por uma corrente em uma âncora, corrente essa que ninguém pode estourar. Em Cristo, progredimos. N'Ele, temos a plena certeza da salvação.

18/11/2015

A parábola do juiz iníquo

LEIA: Lucas 18.1-8

O propósito fundamental da parábola do juiz iníquo contada por Jesus era nos ensinar sobre o dever de orar e nunca esmorecer (v.1). Essa, aliás, é uma recomendação frequente ao longo das Escrituras (cf. Romanos 12.12; Efésios 6.18). No entanto, nessa parábola, cabe destacar a ênfase de Jesus sobre a necessidade de orar incessantemente. Quem crê em Deus ora, quem não ora, não crê! Quanto mais oramos, mais podemos ver o agir de Deus em nossas vidas. Por isso, as palavras de Jesus são imperativas.

Posto assim, o "dever" de orar, é oportuno atentarmos para alguns detalhes presentes na parábola a fim de compreendermos a forma pela qual devemos fazer isso. Em outras palavras, compreendermos como devemos proceder. Reconhecermos as personagens bem como o papel que ocupam na parábola é um bom começo. Embora o título da parábola atribua ao juiz iníquo um certo destaque, é sobre a viúva que devemos inicialmente debruçar nossa atenção. Senão vejamos.

No contexto da parábola, a viúva representava a essência de uma pessoa indefesa (cf. Salmo 68.5; Lamentações 1.1). Caso não tivesse filhos que cuidariam dela, estaria totalmente desamparada correndo, inclusive, o risco de morrer de fome. Ao que parece, a viúva da parábola estava nessa condição, desamparada e injustiçada, essa - diga-se de passagem - era a causa que ela apresentava ao juiz iníquo.

Portanto, essa mulher era uma pessoa totalmente indefesa diante do problema e também diante do juiz. Mas, são nessas condições que ela apresentava a sua causa. E, é dessa forma, que devemos também apresentar as nossas causas perante Deus, qual seja, de maneira indefesa. Isso representa impotência, humildade, reverência. Devemos, pois, nos achegar a Ele da mesma maneira que o publicano da parábola que Jesus contou em seguida. Devemos, ainda, estar conscientes de que não há garantias de que nossas petições serão atendidas prontamente.

Ainda que não saibamos exatamente o que lhe ocorrera mas a causa da viúva era legítima  haja vista que era por justiça que ela clamava. Nesse aspecto, o próprio Jesus ensinou que "Bem-aventurados são aqueles que tem fome e sede de justiça, porque serão fartos" (Mateus 5.6). Portanto, a vontade dela convergia com a vontade de Deus. Por isso, devemos orar sempre de acordo com a Palavra de Deus (João 15.7) para que nossas causas, assim como da viúva, sejam legítimas.

Causas legítimas alcançam êxito, (os que tem sede de justiça, serão fartos - diz o texto), ainda que demorem algum tempo (v.4). É importante, atentarmos agora, para o juiz iníquo. De forma contrastante, ele representa o próprio Deus. O juiz iníquo dada a insistência da viúva julga a sua causa. A lição para nós é simples: se esse homem, injusto e prepotente, atendeu a viúva quanto mais Deus. Acaso Ele não fará justiça aos seus escolhidos? (v.7). Absolutamente! Eis aí uma razão para clamarmos dia e noite pois ao Seu tempo nos atenderá ainda que pareça demorado. Devemos, no entanto, evitar o imediatismo pois certamente isso minará nossa fé! (v.8)

Diante de Deus, portanto:

1) Devemos nos apresentar como viúva;
2) Devemos apresentar causas legítimas;
3) Devemos ser perseverantes;
4) Devemos ser pacientes.

E, por fim, lembremo-nos: "Quem crê em Deus, ora; quem não ora, não crê."

11/11/2015

Defenda o que é seu! (Parte 2)

LEIA: 2Samuel 23. 11-12


Ao posicionar-se no meio do campo de lentilhas e defende-lo do ataque filisteu, Samá demonstrou o valor que aquele campo possuía para ele. O inimigo certamente não entendeu a atitude dele assim como muitos do seu povo também não devem ter entendidos. "É só um campo de lentilhas", devem ter pensado. Não poderiam avaliar o que esse "campo de lentilhas" representava para Samá. Nós, quando empunhamos nossas espadas e solitários nos posicionamos para defender o nosso campo de lentilhas também somos incompreendidos! Mas, assim como Samá, precisamos defende-lo bravamente pois, aquilo que para os outros pode não ter valor algum mas, para nós, é precioso. Portanto, não nos resta outra opção a não ser defende-lo!

Mas o aquele campo de lentilhas poderia significar para Samá? O que justificaria atitudes tão atrevidas da sua parte? 

Para encontrarmos respostas para estas e outras perguntas precisamos recordar que Samá era um dos principais valentes de Davi e, portanto, um soldado corajoso. Assim, defender aquele campo significava primeiramente defender sua honra! 


Honra pode ser definida como um princípio de conduta pessoal baseada na ética, na honestidade, na coragem. Samá era um guerreiro e, naquele momento, deveria agir como tal. Seu papel era, pois, lutar. Poderia perder a luta, é verdade, mas não poderia deixar de lutar! Devemos, portanto, defender o que somos, o que pensamos e o que representamos.

As terras eram propriedade de seu povo e dela provinha o sustento de todos. Vale lembrar que a lentilha era uma planta rasteira, da família das leguminosas, muito apreciada pelo valor nutritivo e pelo sabor agradável que possuía. No campo cultivado estava esforço de todos. Era, pois, um bem comum. Assim, para Samá defender aquele campo significava ainda defender sua família!

É interessante observarmos que ele não tinha motivos para defende-la, afinal, todos fugiram! Samá, por sua vez, ficou e lutou por todos. Poderiam não ser homens valorosos mas para ele o eram. Ele entendia que valia a pena lutar pela sua família assim como vale a pena lutar pela nossa mesmo que ainda não tenhamos motivos. A família é um instituição divina e, por essa razão, o principal alvo do inimigo que quer vê-la dividida  (Êxodo 10.11) e arruinada (Mateus 12.15).

Por fim, para Samá defender aquele campo significava defender sua fé! Sabemos que os valentes de Davi eram homens que viviam marginalizados (1Samuel 22.2). No entanto, de covarde Davi os transformou em valentes (2Samuel 23.8), de aflitos em corajosos (1Crônicas 12.22) e, de envidados, valorosos (1Crônicas 12.2,8,14). Deus mudou suas histórias assim como a nossa! E, esse mesmo Deus, está ao nosso lado todos os dias mudando nossas histórias todos os dias! Samá pôs em prática sua fé quando enfrentou o inimigo. Ele havia aprendido com Davi, seu general, que o próprio Deus lutaria por ele e lhe daria vitória. Dito e feito. Naquele dia Deus efetuou grande livramento (2Samuel 23.13) resultado, portanto, da sua fé!

O campo de lentilhas significava para Samá aquilo que havia de mais importante para ele: sua honra, sua família, sua fé! O mais importa para você? Qual o seu campo de lentilhas? Seja o que for, ele representa muito para você. É seu! Portanto, posicione-se e o defenda. O Senhor certamente efetuará grande livramento!

04/11/2015

Defenda o que é seu! (Parte 1)

LEIA: 2Samuel 23. 11-12

Ao todo, os valentes de Davi eram 37 homens (2Samuel 23.39). Dentre eles, havia um chamado Samá cujo maior feito foi posicionar-se no meio de um campo de lentilhas e defende-lo do ataque filisteu justamente no instante em que todo o povo fugia. Além de ser o seu maior feito é o único descrito na Bíblia. No entanto, a partir dele é possível conhecer um pouco a seu respeito e de suas atitudes. Senão vejamos:

1. Samá, filho de Agé, o hararita, provavelmente nasceu em circunstâncias nada favoráveis pois o seu nome significava "desolação". Tal condição, no entanto, não era privilégio dele apenas. Os valentes de Davi eram os excluídos daquela sociedade (1Samuel 22.2). No entanto, tiveram suas vidas transformadas quando encontraram-se com o rei. Samá passou a ser o terceiro homem mais importante de Davi.

2. Samá recebeu um campo de lentilhas do rei para cuidar e fez juz a confiança a ele devotada. Em certa ocasião, quando os filisteus promoveram um ataque ao seu povo todos fugiram, exceto ele. Se tivesse fugido, teria perdido a oportunidade de realizar tal feito. A oportunidade, portanto, nunca está ao lado daqueles que fogem diante das batalhas.

3. Samá, assim, lutou sozinho diante do exército inimigo e o venceu. O fato de estar sozinho na batalha não o enfraqueceu. Ele venceu o desânimo e temor que certamente tomou conta do seu coração. Ele obteve inicialmente uma vitória interna reconhecendo portanto, força em sua fraqueza (2Coríntios 12.10).

4. Samá se posicionou no meio e não nos flancos do campo. Fez isso não porque desejasse para si honrarias mas porque era o papel que lhe cabia naquela ocasião. Se expôs, mesmo sabendo os riscos que estava correndo. Mas era necessário correr esses riscos pois, do contrário, não os teria superado.

5. Samá defendeu o campo e não as lentilhas, certamente, esmagadas durante do combate. Sua prioridade, portanto, era defender aquilo que era fundamental. Novas sementes poderiam ser lançadas naquelas terras e frutificarem novamente. Mas isso não seria possível se o inimigo lhe tomasse o campo.

O resultado de tais atitudes: grande livramento de Deus! (2Samuel 23.12)

Portanto, Samá desconsiderou o seu passado e tornou-se um soldado valoroso. E, como tal, diante da luta não perdeu a oportunidade de enfrentá-la. Mesmo sozinho, não desanimou. Correu os riscos e defendeu aquilo que era importante para ele e para o seu povo. 

25/10/2015

A oração para tempos de vale

LEIA: Marcos 9.14-29

Ao lado de Pedro, Tiago e João, Jesus desce o monte da transfiguração rumo a um vale. Os discípulos que haviam contemplado a majestade de Deus deparam-se, dessa vez, com o sofrimento reinante no vale. Ao se aproximarem, encontraram uma multidão em polvorosa. Estavam ali, os demais discípulos, fariseus, escribas e, um homem que, ao ouvir Jesus perguntar aos escribas o motivo daquele alvoroço, salta a frente e toma a palavra. Ele era pai de um jovem endemoniado, filho único (Lucas 9.38), cujo espírito que o havia possuído os discípulos não puderam expulsar. Os fariseus queriam saber porque eles não conseguiram. Eis aí a razão do alvoroço.

Ajoelhado (Mateus 17.14), o pai começa a descrever a Jesus a situação do filho, o sofrimento causado a ele pelo espírito maligno (vv. 17 e 18). Ao tomar conhecimento, Jesus repreende a incredulidade daquele povo e pede que tragam o rapaz (v.19). O espírito agita-se ao vê-lo. Antes de expulsar esse espírito, Jesus faz algumas perguntas àquele pai. Inicialmente, Ele pergunta desde quando isso acontece. O pai, por sua vez, responde: desde a infância (v.21). Esse homem descreve mais alguns detalhes acerca do sofrimento do filho (e, principalmente dele) e, por fim, pede que Jesus o ajude, caso tenha poder para isso (v.22). Este, o responde dizendo que "tudo é possível ao que crê" (v.23). Ao ouvir tal resposta, o pai faz uma oração deveras curiosa: "Eu creio! Ajuda-me na minha falta de fé" (v.24). Ao perceber a multidão se agitando ainda mais, Jesus imediatamente, responde a oração daquele pai. O espírito imundo é expulso e o jovem, finalmente, liberto e entregue ao pai.

Mas porque essas palavras aparentemente contraditórias revelaram-se extremamente eficaz naquele momento e lugar? De outro modo, porque a oração feita por aquele homem foi respondida tão prontamente por Jesus? Sugerimos, a seguir, algumas respostas.

A oração daquele pai foi uma oração sincera. Ao dizer que sua fé estava por um fio de modo a ter uma certa dúvida quanto ao poder de Jesus, aquele pai não estava blasfemando. Ao contrário, estava sendo sincero. O sofrimento de longos anos fez com que a sua fé esmorecesse. Ele não escondeu esse fato de Jesus mesmo que, a princípio, não lhe beneficiasse. Mas o que Jesus queria ouvir daquele pai era a verdade.

A oração daquele pai foi também uma oração objetiva. É interesse observar esse aspecto haja vista que os fariseus estavam presentes, justo eles os quais o próprio Jesus acusou de fazerem longas orações e para si mesmos (Lucas 18.9-14). Jesus não queria ouvir daquele pai vãs repetições (Mateus 6.6).

A oração daquele pai foi ainda uma oração fervorosa. Ele clamou a Jesus com lágrimas nos olhos (v.24). Alguém que ora dessa maneira revela a humildade que há em seu coração. As palavras, portanto, apenas resumem esse sentimento. Jesus queria ouvir o clamor daquele pai em favor de seu filho.

Finalmente, a oração daquele pai tinha o alvo certo. C.H. Spurgeon dizia que o "Alvo da oração é o ouvido de Deus". Mas é oportuno destacar que, inicialmente, aquele pai pediu auxílio aos discípulos (Lucas 9.40). Como sabemos, aqueles homens não puderam atendê-lo. Somente Jesus podia. Portanto, ele só encontrou resposta para o seu sofrimento quando clamou a Jesus. Ele, portanto, era o alvo daquela oração.

Se quisermos ouvir (e ver) nossas orações respondidas devemos, pois, fazer com que elas sejam sinceras, objetivas, fervorosas e, dirigidas, a Deus. Para quem está passando pelo vale, como aquele homem, essa é a oração que deve ser feita.

21/10/2015

Aprendendo com as aflições de Jó: a grandeza de Deus diante das aflições

LEIA: Jó 38, 39, 40 e 41

Ao ouvir as palavras de sua esposa e de seus amigos nada aconteceu à Jó. No entanto, quando ele ouviu as palavras de Deus, sua postura mudou radicalmente. O homem que se manteve irrepreensível diante de tamanha aflição buscou sempre provar sua integridade face às duras palavras que lhe atingiram. Entretanto, o que lhe doeu mais não foram essas palavras mas certamente o silêncio de Deus. Por isso, ele desejava ansiosamente uma audiência com o Todo-Poderoso. Afinal, Jó queria saber do próprio Deus as devidas explicações para o seu sofrimento. Isso, no entanto, ocorre apenas quando Jó tem uma visão acerca de Deus (Jó 38.1). Seria esse momento tão esperado aquele que elucidaria toda a situação de Jó? Deus responderia detalhadamente todas as inquietações de seu coração? Infelizmente não! Deus dirige-se a Jó através de perguntas que à primeira vista não lhe interessavam. No entanto, foram essas mesmas perguntas que o fizeram a ver as coisas sob outra perspectiva.

As perguntas de Deus à Jó podem ser agrupadas através das seguintes categorias:
  • Onde? A primeira pergunta, aliás, inicia-se dessa forma: "Onde estavas tu?" (Jó 38.4). Através dessas perguntas Deus queria inserir a vida de Jó na história do próprio Universo. Deus queria ensiná-lo que ele fazia parte de um contexto muito mais amplo que as suas aflições. Nós fazemos parte do Universo. No entanto, somos tão pequenos diante dele, não vivemos sozinhos nele e tampouco somos o centro dele. O propósito de Deus é, portanto, revelar a magnitude do Universo criado por Ele e, ao mesmo, a insignificância do homem nele.
  • Quem? Perguntas iniciadas assim visam desafiar a Jó a pensar nos mistérios da criação e na divina providência. Deus não criou todas as coisas e as relegou à própria sorte. Ao contrário, Ele mesmo é o sustentador delas. Deus queria mostrar a Jó o seu cuidado com a criação e o seu o controle sobre ela. Portanto, as aflições de Jó não passavam despercebidas aos olhos de Deus. Ao contrário, Ele estava atento a elas. O Deus que controla todas as coisas não está alheio às nossas causas. 
  • Acaso ou Porventura? Perguntas iniciadas através dessas expressões visam revelar a incapacidade de Jó diante de situações elementares da vida. O que Deus quer mostrar é que o Universo segue o seu curso normalmente sem o homem. Não temos condições, nem controle sobre o seu funcionamento. Não sabemos o que acontece durante a noite, por exemplo, apesar de a vermos chegar com o pôr do sol. Deus não espera que Jó responda a tais perguntas mas que ele (assim como nós) reconheça a sua incapacidade diante de todas as coisas.
Diante do exposto, não restava a Jó outra coisa senão o silêncio mas, dessa vez, de sua parte.  Ouvir a respeito da grandeza de Deus o fez compreender que o sofrimento que lhe afligira não era maior que o Deus que ele servia. Ele chega, assim, a quatro conclusões importantes:

1) Jó confessa a onipotência e a soberania de Deus (Jó 42.2);
2) Jó confessa a sua limitação diante dos planos de Deus (Jó 42.3);
3) Jó confessa o benefício supremo de suas aflições (Jó 42.4);
4) Jó confessa o arrependimento de suas palavras (Jó 42.5-6).

É oportuno destacar que Jó faz tais confissões antes mesmo que Deus restaure sua prosperidade. A atitude de Jó nos ensina que nossas aflições não chegarão ao fim quando estivermos olhando para elas mas para a grandeza de Deus diante delas. 

14/10/2015

Aprendendo com as aflições de Jó: as certezas diante das aflições

LEIA: Jó 19.25-27

O capítulo 19 do livro de Jó é bastante conhecido porque contém a famosa declaração que ele faz acerca do seu Redentor (v.25). Os vv. 25 e 27, nos quais está contida tal declaração, apresenta as certezas de Jó as quais, por sua vez, o sustentaram em meio as suas aflições. No entanto, dois aspectos são importantes para compreendermos o valor das palavras ditas por Jó. O primeiro deles diz respeito às descrições de suas aflições no contexto do capítulo: Jó é oprimido através de palavras (vv. 2 ss) e também pelo próprio Deus (vv. 5 ss), é abandonado pelos próprios parentes (v.14) e pelos próprios servos (v.15), e, ainda, é desprezado por crianças (v.18). O quadro descrito, portanto, é lastimável mas é, diante desse quadro, que Jó apresenta suas certezas. Demonstrar confiança, nesses termos, possui um valor inestimável para Deus (Hebreus 11.6).

Mas de onde Jó extraiu essas certezas? Quais suas fontes? Em que momento de sua vida ele fez isso? Eis aí o segundo aspecto para compreendermos suas palavras. Como sabemos, Jó era um homem temente a Deus e também possuidor de um grande conhecimento a respeito d'Ele (cf. Jó 4.4-6). Tudo isso, certamente, foi adquirido em tempos de calmaria. Ele acumulou ao longo desse período certezas em seu coração que, no momento mais difícil da sua vida, o sustentaram. Portanto, é necessário nos questionarmos acerca daquilo que temos acumulado em nosso coração em dias de paz. Temos lido a Bíblia, buscado a Deus em oração? São práticas como essas que produzirão certezas em nossos corações quando as aflições chegarem em nossas vidas.

Mas quais são as certezas de Jó? Quais podemos destacar? De acordo com o texto, são essas:

1) Jó sabe que o seu redentor vive (v.25): É importante destacar que para Jó o seu redentor não é Deus. Em Jó 16.19, Jó refere-se a ele como sendo sua testemunha ou seu advogado que, portanto, advoga sua causa. Em Jó 9.33, o redentor aparece como árbitro, ou seja, aquele que julga entre ele e Deus. Portanto, o redentor sempre aponta para um mediador entre o homem e Deus, portanto, para Jesus Cristo (1Timotéo 2.5). Jó está certo de seu redentor vive. Essa é, sem dúvida, a marca distintiva do cristão. O nosso redentor está vivo! A morte não o segurou, o túmulo está vazio! Nada mais confortante estarmos certos disso quando estivermos em duras aflições.

2. Jó sabe que o seu redentor se levantará sobre a terra (v.25): Nesse contexto, terra quer dizer pó. Precisamos compreender isso para entendermos as palavras de Jó. Desde que os tumores malignos surgiram em seu corpo ele sabia que a morte o esperava, aliás, ele próprio a desejava. Por isso, em vários momentos, Jó a menciona como, por exemplo, em Jó 7.21. É interessante notar que, junto com ele, descerá ao pó, a esperança. Portanto, ambos serão mortos. Assim, dizer que o seu redentor se levantará da terra (ou do pó) implica dizer que ele próprio e a sua esperança ressurgirão. Nunca é demais lembrar que a esperança do cristão é Jesus Cristo. Nada mais confortante estarmos certos disso em momentos de incertezas e dúvidas.

3. Jó sabe que verá a Deus (vv. 26 e 27): Essa, sem dúvida, é a principal das certezas de Jó. Depois que o seu redentor se levantar sobre a terra, ele receberá uma nova pele e, na própria carne, verá a Deus. Jó não está falando aqui de uma visão e sim de um encontro físico. Tamanha preocupação de Jó com a pele não é casual pois a degradação dela é a maior prova de sua aflição (Jó 7.5). Portanto, a restauração de seu corpo como um todo representa para Jó o fim de todos os males. As palavras dele representam a nossa bendita esperança (Tito 2.13): o encontro com nosso redentor e nossa glorificação. Um dia toda a nossa lágrima será enxugada (Isaías 65.19; Apocalipse 21.4). Nesse dia então, nossas aflições, as mais terríveis, não terão efeito algum sobre nós. Nada mais confortante estarmos certos quando ainda hoje as lágrimas escorrem pelos nossos rostos cansados e tristes.

Que as certezas de Jó diante das aflições sejam as nossas também em nossas aflições. Saber que o nosso redentor vive, que ele se levantará sobre a terra que, por fim, veremos a Deus certamente nos servirão de alento nos momentos mais difíceis os quais estamos enfrentando ou os quais enfrentaremos um dia.

11/10/2015

Deus quer nos fazer repousar...n'Ele!

LEIA: Salmo 23

Diante de uma vida tão atribulada e corrida acabamos nos esquecendo o valor do repouso, se é que o conhecemos! Para honrar nossos compromissos somente vinte e quatro horas não bastam. Necessitaríamos, por exemplo, de um dia de quarenta e oito horas. O problema é que, se tivéssemos mais tempo, incluiríamos mais compromissos em nossa agenda. Parece que nunca estamos satisfeitos! Mas será que é isso mesmo que Deus espera de nós? Deixemos que o Salmo 23 nos ajude a encontrar respostas para as nossas angústias!

Esse salmo, o texto mais conhecido do mundo, descreve a confissão pessoal ("meu" pastor) de uma ovelha. Contextualmente, é uma continuação do Salmo 22. Este, um salmo messiânico (que aponta para Cristo, portanto), descreve alguém em grande aflição. As respostas para tais aflições são encontradas no capítulo seguinte. Por isso, o v.1 é conclusivo: "O Senhor é o meu pastor; nada me faltará." O que se segue, portanto, o justifica.

Diz o v.2: "Ele me faz repousar em pastos verdejantes. Leva-me para junto das águas de descanso." O verbo "faz" indica uma intensidade na ação de modo que, "fazer" não é o mesmo que "deixar". Mas, poderíamos pensar que, em se tratando de ovelha, um animal dócil, qual a necessidade em fazê-la descansar? Não bastaria que a colocassem no pasto e ela descansaria naturalmente? A resposta é não, pois a ovelha não é tão dócil quanto pensamos assim como o seu dia a dia, um verdadeiro atropelo (Ezequiel 34). Você  nunca parou para pensar que  ovelha perdida a qual Cristo foi buscar não é aquela que se apostatou mas que, provavelmente, foi ferida e empurrada para fora do rebanho pelo chifre de uma outra ovelha mais forte (Mateus 18.10-14; Lucas 15.3-7)? Pois bem, isso explica o fato de muitos hoje estarem longe do aprisco, foram maltratadas.

Mas, nesses termos, como descansar então? 

A resposta primeiramente está no v.1: "O Senhor é o meu pastor; nada me faltará". Em outras palavras, "O Senhor é o meu pastor e eu estou satisfeito". Isso indica que precisamos encontrar plena satisfação em Deus. Encontrar plena satisfação em Deus, por sua vez, nos faz entender o que queremos para a nossa vida. Muitos de nós nunca estamos satisfeitos não porque somos incapazes de conseguir o que queremos mas, porque não sabemos exatamente o que queremos! Sempre há um vazio em nossa alma! Mas esse vazio, como alguém já disse, é do tamanho de Deus. Por isso, só Ele para preenchê-lo. Devemos, pois, confiar na provisão de Deus. Afinal, nada nos faltará!

Devemos também confiar na justiça de Deus. O v.5 nos ajuda a compreender melhor essa questão. Se não vejamos: é retratado um banquete no qual o convidado assenta-se em uma mesa na presença de seus adversários, tem a sua cabeça ungida com óleo e o seu cálice transbordante. Mas afinal, o que esse cenário nos ensina? Ora, a lição principal é que a nossa justiça virá da parte do Senhor e não da nossa! O cálice transbordante é um símbolo da ira de Deus sobre aqueles que nos afligem.

A parte b do v.3 nos ensina que devemos confiar na direção de Deus. O Sumo Pastor sabe conduzir o seu rebanho. E, nós mesmo sabendo que vamos passar pelo vale da sombra da morte (v.4), jamais poderemos desconfiar da condução daquele que nos guia. Bondade e misericórdia, nesse percurso, certamente nos seguirão todos os dias (v.6) até que, finalmente, sejamos conduzidos aos portais da glória!

O salmista conhece o que o satisfaz! E quanto a nós?

Portanto, o Senhor nos deve satisfazer plenamente. Devemos confiar em Sua provisão, em Sua justiça e em Sua direção. E, nunca nos esquecermos: "Quem não sabe o que quer, nunca vai saber o que o satisfaz." Desejemos Deus e encontraremos n'Ele repouso pois, Ele próprio quer nos fazer repousar!

08/10/2015

Cuide do seu coração!

LEIA: Salmo 73.21-28

Em várias ocasiões, a Bíblia nos ensina a cuidar do nosso coração (Provérbios 4.23) justamente por ser o coração um órgão vital do ser humano. Um coração bem cuidado garante uma ótima saúde física mas também espiritual. Tendo em vista que o coração do homem é enganoso (Jeremias 17.9), faz-se necessário examinarmos minunciosamente as suas intenções. Se nos omitirmos dessa tarefa corremos sérios riscos de ter problemas durante a nossa caminhada.

Nesse aspecto, o Salmo 73 é bem peculiar pois nos mostra uma situação, muitas vezes, corriqueira na vida do cristão. Este, por observar demasiadamente a vida do ímpio e compará-la com a sua, conclui inútil sua vida piedosa assim como fez o salmista (v.13). É interesse observarmos para a autoria desse salmo, atribuída à Asafe, também autor de inúmeros outros salmos (12 no total). Não era uma pessoa qualquer, por assim dizer, tratava-se de um profeta de Deus (2Crônicas 29.30; 2Crônicas 35.15). Esse fato, portanto, não deve ser desconsiderado.

É oportuno dizer que, por tratar-se de um salmo didático, o autor começa o texto com uma conclusão, "Com efeito" (v.1). Em seguida, faz menção da sua "quase" queda (v.2) para, posteriormente, descrever aquilo que observou dos ímpios. A prosperidade que ele via causou-lhe inveja (v.3). Talvez se perguntava no coração: "Porque ser fiel a Deus, se o ímpio que até debocha das coisas de Deus desfruta de uma condição de vida  melhor?" Essas e outras perguntas devem ter permeado sua mente. Por providência divina, ele não compartilhou com ninguém nenhuma delas (v.15). Imagine o mal que teria causado na vida espiritual de alguém que tivesse ouvido tais pensamentos?

A amargura de um coração embrutecido e ignorante (vv. 20 e 21) explica todos esses pensamentos maus. A situação, no entanto, começa a mudar quando o salmista diz adentrar ao santuário de Deus (v.17). Isso nos ensina que há experiências que vamos vivenciar apenas na Igreja. Um hino entoado, uma palavra ministrada pode nos fazer enxergar a realidade sob outros ângulos. O problema, muitas vezes, não está na realidade que o nosso coração apreende mas, sim em nosso próprio coração. A partir desse momento, o salmista começa a ver que os ímpios não são tão prósperos assim. O adentrar ao santuário talvez o tenha feito compreender o valor que há no testemunho dos nossos irmãos. Esse sim, deve ser observado e seguido, não o dos ímpios.

Quando o seu coração começou a ser tratado adequadamente, o salmista passou a compreender lições valiosas. Ele compreendeu que Deus é:
  1. Sua companhia e o seu sustento (v.23);
  2. Seu conselheiro e aquele que o receberá na glória (v.24);
  3. Seu maior patrimônio (v.25);
  4. Sua maior fonte de alegria (v.25);
  5. Sua fortaleza e a fortaleza do seu coração (v.26);
E, reconhecendo, tudo isso o salmista estabelece uma meta: "Proclamar todos os feitos de Deus em sua vida" (v.28).

Deus vai pedir que prestemos conta do nosso coração e não do coração dos outros. Por isso, é dele que devemos cuidar. Os mais interessados nisso somos nós mesmos pois afinal; "Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus" (Mateus 5.8).

07/10/2015

Aprendendo com as aflições de Jó: o silêncio diante das aflições

LEIA: Jó 2.11-13

Os dois primeiros capítulos do Livro de Jó descrevem duras perdas sofridas por ele:
  • Perda das riquezas (inclusive dos filhos);
  • Perda da saúde;
  • Perda do apoio da própria esposa.
É interessante que, mesmo diante de tantas perdas, Jó permanece otimista e confiante ( 1.21; Jó 2.10). No entanto, logo no início do capítulo 3, Jó amaldiçoa o dia do seu nascimento. Nesse entretanto, o que teria acontecido com ele?

Observe que o capítulo terceiro inicia com a frase "Depois disto" (Jó 3.1). A pergunta é: a que acontecimento ela se refere? A resposta está em Jó 2.13. Após a chegada de seus três amigos, estes sentaram-se com Jó e todos permaneceram em silêncio durante sete dias e sete noites. Portanto, a explicação para a mudança da postura de Jó está exatamente nesse período de silêncio que ele experimentou.

Vale lembrar que o silêncio é benéfico, todos precisamos de um tempo para nós mesmos. Mas diante das aflições o que o silêncio pode produzir em nossas vidas? Se basearmos na experiência, o silêncio pode produzir sérias consequências.

Durante esse período certamente Jó fez uma retrospectiva de sua vida. Partiu daquele momento até o ao seu dia natalício. Certamente perguntas do tipo: Onde foi que eu errei? Ou então, "O que fiz para merecer isso?" passaram pela cabeça desse homem. Ele queria encontrar explicação para o que estava vivendo. 

Jó reconhecia-se como pecador, basta lembrarmos que ele próprio oferecia holocaustos em favor dos filhos (Jó 1.5). Diante desse silêncio, Jó confessara a Deus os seus pecados talvez imaginando que, perdoado, estaria livre das aflições. Eis aí uma preciosa lição extraída da vida de Jó: podemos colher o mal mesmo tendo plantado o bem. Afinal, os justos também sofrem!

Em silêncio, Jó esperava respostas da parte de Deus para o seu sofrimento (Jó 13.20-23). Mas durante todo esse tempo Deus também permaneceu em silêncio. Aliás, Ele vai se dirigir a Jó apenas no capítulo 38 do livro e não para dar as respostas que Jó esperava mas para revelar a ele a Sua grandeza. O silêncio de Deus pode nos consumir e causar mais dano que a própria perda material. Pode, inclusive, nos fazer blasfemar. Jó não fez isso mas revelou profunda indignação diante da dor.

Portanto, diante das aflições da vida avaliemos as consequências do silêncio. Falemos a Deus nossas necessidades e, se preciso for, falemos a pessoas tementes a Deus. Mas nunca deixemos que o silêncio nos consuma. As consequências podem ser muita duras para nós.

Aprendendo com as aflições de Jó

LEIA: Jó 19.23

Você já parou para pensar que Deus pode estar usando as experiências amargas de sua vida para ensinar lições preciosas a outras pessoas? Jó deveria estar pensando exatamente nisso quando imaginou suas aflições em um livro (Jó 19.23). Se realmente foi isso que ele pensou, ele acertou em cheio. Suas aflições foram escritas e hoje nos servem de grande ensinamento.

Dentre os vários ensinamentos contidos no livro, por ora, destacaremos os seguintes:


Não sabemos a autoria nem a data de composição do livro. Para alguns, trata-se do livro mais antigo da Bíblia, escrito por Moisés ainda no século XVI a.C.. Para outros, a composição data do século XIX, durante o reinado de Salomão. Mas há também os que atribuem uma data mais recente para o livro, a saber, o período pós-exílico, século VI a.C.. O que podemos ter certeza no entanto, é que a composição final do livro data desse período. Os capítulos 1 e 2, por exemplo, fazem menção de Satanás como adversário de Deus. Esse conceito foi adquirido no cativeiro pois, tanto o bem quanto o mal atribuíam ao próprio Deus - aliás, Jó fez isso - e não a um inimigo propriamente dito.

A pergunta a qual o livro tenta responder é: "Por que os justos sofrem?". No entanto, preferimos proceder a leitura de Jó partindo não de um questionamento mas sim de uma afirmação: "Vale a pena servir a Deus". Diante das nossas aflições procuramos respostas. Em muitos momentos, no entanto, a única que temos é a afirmação da qual partimos. E, em quase todos os momentos, convenhamos, é a que nos basta.

30/09/2015

A armadura de Deus: a oração

LEIA: Efésios 6.18-20

A oração é o meio pelo qual podemos avaliar a nossa vida cristã de modo que, a sua qualidade, nada mais é que o reflexo da qualidade das nossas orações. Se pensarmos que a vida cristã é o nosso campo de batalha, lograremos mais êxito nele se estivermos em constante oração. Um bom soldado, portanto, é aquele que está em contínua comunicação com o seu general e sabe, sobretudo, reconhecer suas ordens.

O momento mais precioso na vida do crente é o da oração. Isso porque quando oramos, todas as pessoas da Trindade estão em ação. Não sei se nos damos conta disso mas nós oramos à Deus, em nome de Jesus e sob a intercessão do Espírito Santo. Um momento tão precioso quanto esse não deve nunca ser desperdiçado. É nessa hora que somos orientados quanto ao procedimento no campo de batalha.

Mas o que é oração? E, como se deve orar? Oração é uma conversa com Deus mas não é uma conversa entre pares. Muito pelo contrário, é uma conversa entre indigentes com o Todo-Poderoso. Portanto, essa conversa exige preparação. Quando vamos nos dirigir a determinadas autoridades, por exemplo, somos extremamente criteriosos em relação ao que dizer. Portanto, quando vamos nos dirigir a Deus, devemos ser ainda mais criteriosos. Por isso, a orientação é orar através de Sua própria Palavra (João 15.7).

Paulo diz ainda aos Efésios que oração requer perseverança e intercessão do Espírito (Efésios 6.18). Devemos, pois, orar incessantemente (1Tessalonicenses 5.17), reconhecendo, assim, o tempo oportuno no qual receberemos graça e misericórdia do Pai (Hebreus 4.16). E, aquilo que não conseguimos expressar com palavras a Deus, o Espírito Santo fará através de gemidos inexprimíveis (Romanos 8.26).

Devemos orar por todos os santos, isto é, uns pelos outros (Efésios 6.18). Afinal somos um exército e devemos socorrer os demais soldados em suas necessidades. Orar uns pelos outros exercita nosso senso de coletividade e nos impede de pecar (1Samuel 12.23). Clamar a Deus apenas pelas nossas necessidades é um péssimo indicador da qualidade das nossas orações. Por outro lado, orar pelas necessidades alheias e, sobretudo, por aqueles que pregam a Palavra eleva esse indicador sobremaneira.

Um outro indicador da qualidade de nossas orações diz respeito aos motivos que apresentamos a Deus. Tais motivos são de ordem material apenas? Ou são de ordem espiritual? Oração requer, como dissemos anteriormente, preparo. É preciso, pois, instrução. Os discípulos em uma determinada situação perguntaram a Jesus como deviam orar (Lucas 11.1). O mestre respondeu-lhe deixando um modelo, a oração dominical (Mateus 6.9-13). Quem não conhece essa oração? Certamente a maioria das pessoas, até mesmo os não-cristãos. Mas aquilo que está nas entrelinhas dessa oração certamente quem conhece não é a maioria.

Na oração dominical são feitas sete petições das quais, seis de ordem espiritual e, apenas uma, de ordem material. O que Jesus quis ensinar aos seus discípulos (e, por extensão, à nós) é que as coisas espirituais devem ser prioridade em nossas vidas, ou seja, o Reino de Deus e a justiça (Mateus 6.33).

Um exército vitorioso é sustentado pela oração de modo que, não há vitória, sem oração!

23/09/2015

A armadura de Deus: a espada do Espírito

LEIA: Efésios 6.17

Eis a arma mais poderosa do soldado: a espada. Os romanos utilizavam uma espada curta de modo a ser manejada por uma mão apenas facilitando, assim, o embate corporal. A espada é fundamental para atacar mas também para defender. Como ao soldado cristão resta-lhe a certeza de que será atacado, defender-se é fundamental. Nesse aspecto, a espada do Espírito, isto é, a Palavra de Deus é uma poderosa arma.

No deserto, o diabo ataca Jesus utilizando a Palavra que, por sua vez, o contra-ataca também com a Palavra (Mateus 4.1-11). A Palavra assim, deve vista ser como a própria Escritura e, usá-la como arma de defesa, requer intimidade. Muitos a tomam como um objeto místico de poder, deixam-na aberta em algum lugar na esperança que, dessa forma, o inimigo seja afugentado. Ledo engano! A Palavra de Deus precisa ser lida, ouvida e obedecida (Apocalipse 1.3). De nada serve uma arma tão poderosa se não soubermos manuseá-la. Um soldado, portanto, deve estar acostumado com a espada a fim de manejá-la com destreza resistindo assim, o inimigo pois, dessa forma, ele será afugentado. Quem garante isso? A Palavra de Deus (Tiago 4.7). 

A armadura de Deus: o capacete da salvação

LEIA: Efésios 6.17

Apesar de ser a última peça da armadura a ser colocada pelo soldado, o capacete é uma das armas mais importantes pois protege a cabeça. Um ferimento nessa parte do corpo é mortal. Por isso, o capacete do soldado romano era uma peça reforçada de bronze que cobria não só a cabeça mas o pescoço e também parte do ombro. Não poderia haver qualquer tipo de vulnerabilidade nesse aspecto. O soldado deveria estar protegido e, diga-se de passagem, bem protegido.

Mas para o soldado cristão qual a importância de se estar devidamente revestido de um capacete, qual seja, o capacete da salvação? O que esse peça representa? Para o cristão, o capacete representa a esperança da salvação (1Tessalonicenses 5.8), essa dom gratuito de Deus (Efésios 2.8). Por essa razão, o inimigo não pode nos tirar a salvação mas ele pode ofuscá-la. De que modo? Primeiro, ele pode gerar dúvidas em nosso coração em relação à salvação: será que sou salvo? Segundo, pode gerar desesperança em relação à salvação fazendo-nos focar nas coisas desse mundo apenas. Onde está nosso tesouro, está nosso coração (Mateus 6.21). Afinal, se nossa esperança em Cristo se limita a essa vida somos os mais infelizes de todos os homens (1Coríntios 15.19).

A certeza da salvação é uma arma poderosa contra o inimigo. Ela minimiza os sofrimentos do presente pois nos transporta para o porvir (Romanos 8.18). Aponta para a conclusão da obra que Deus começou em nossas vidas e vai concluí-la até esse tempo (Filipenses 1.6). Em suma, torna mais suave nossa peregrinagem por aqui, Um soldado com a cabeça protegida não pensa em outra coisa, a não ser prosseguir para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus (Filipenses 3.14).

16/09/2015

A armadura de Deus: o escudo da fé

LEIA: Efésios 6.16

A maior peça da armadura dos soldados romanos era o escudo. Essa peça, de 1,20 m de altura por 0,80 m de largura,  constituía-se em uma placa ovalada de madeira muito resistente, coberta por chapas metálicas e revestida por couro embebido na água para apagar as flechas incendiadas dos inimigos. Estes, mergulhavam a ponta da flecha no betume, ateavam fogo e atiravam-na.

Os soldados deviam posicionar devidamente o escudo, protegendo o corpo desde o joelho até a altura do queixo. De nada adiantaria um escudo de dimensões tão grandes se mal utilizado. Não protegeria o soldado adequadamente. O mesmo raciocínio vale para o soldado cristão pois, este, deve embraçar o seu escudo, posicionando-o corretamente. O que Paulo quis dizer aos Efésios é que, procedendo dessa forma, a fé estaria em plena atividade e produziria frutos. Não adianta ter fé, é preciso colocá-la em ação pois, do contrário essa seria uma fé morta (Tiago 2.17).

Existe uma operação militar conhecida como "tartaruga" na qual os soldados posicionam seus escudos sobre a cabeça formando assim, uma espécie de casco. Este, por sua vez, protegia a corporação por isso além de proporcionar uma defesa individual, o escudo também proporciona uma defesa corporativa. Isso nos ensina algo muito simples: uma fé fortalecida vai fortalecer a fé do outro. Infelizmente, a recíproca é verdadeira: uma fé enfraquecida vai enfraquecer a fé do outro. Somos um exército, devemos lutar uns pelos outros, encorajando-nos e fortalecendo-nos mutuamente.

No entanto, é oportuno lembrarmos que o escudo da fé apaga todos os dardos inflamados do maligno e não apenas alguns. É, portanto, uma arma muito eficiente. Mas o que representam esses dardos? Quais significados possuem para nós? Podemos destacar vários significados: a) Acusações pessoais: o inimigo perdeu o seu papel de acusador legal mas não perdeu o hábito de acusar os santos de Deus, porém o faz no nível pessoal. Quantas vezes, por exemplo, ouvimos palavras severas sem motivo aparente?; b) Tentações: quando caímos na armadilha da soberba; e, c) Distrações: quando nos preocupamos com coisas insignificantes. São dardos inflamados do maligno mas, não nos esqueçamos, o escudo da fé apaga todos eles.

O inimigo utiliza dardos pois prefere nos atacar à distância, de maneira quase sempre traiçoeira. Não importa para ele uma vitória honrosa. Mas também atira dardos porque não pode se aproximar daquele que é nascido de Deus (1Pedro 5.8; 1João 5.18) pois o Espírito Santo, o poder de Deus em nossas vidas, o impede. Portanto, não lhe resta outra opção a não ser essa.

A armadura de Deus: a sandália do Evangelho

LEIA: Efésios 6.15

Os calçados utilizados pelos soldados romanos eram sandálias feitas de couro e com pregos na solas. Elas davam firmezas aos soldados durante os confrontos. Vale lembrar que o campo de batalha era um local terrível, encharcado (muitas vezes de sangue!) e, portanto, era necessário um calçado que os mantivesse em pé. A queda representava, sem sombra de dúvida, morte.

Um soldado cristão também deve estar calçado com essas sandálias, no entanto, ao contrário dos soldados romanos que deveriam utilizá-la para matar, o soldado cristão deve utilizá-la para salvar haja vista que sua arma é o Evangelho que é o poder de Deus para a salvação de todos os que creem (Romanos 1.16).  

Calçar essas sandálias, por sua vez, requer preparo. É preciso que o soldado tenha consciência da missão que lhe fora designada. O Evangelho precisa ser anunciado através dos pés formosos que as calçam. (Isaías 52.7; Romanos 10.14-15). Esses pés, muitas vezes, feridos e cansados, são belos aos olhos de Deus. E, são esses mesmos pés que também tem a incumbência de defender o Evangelho (1Pedro 3.15; Judas 1.3) com mansidão e temor mas sempre em favor de sua integridade.

Paradoxalmente, a sandália do Evangelho deve produzir paz:

  1. Paz com Deus (Romanos 5.1); 
  2. Paz com o próximo (Efésios 2.19); 
  3. Paz conosco (João 14.27). 
Isso parece fazer com coro com aquela máxima: "Se queres paz, te preparas para a guerra". Estamos, pois, em guerra mas em favor da paz.

Por fim, a sandália do Evangelho pisará todos os inimigos de Cristo (1Coríntios 15.27) e, por fim, esmagará a Satanás (Romanos 16.20). O Reino de Deus avança a medida que todos os soldados calcem suas sandálias e invistam contra o inimigo. Portanto, a ordem é estar com os pés calçados (Efésios 6.15).

09/09/2015

A armadura de Deus: a couraça da justiça

LEIA: Efésios 6.14

A couraça era uma espécie de colete feito de chapas metálicas, muito reforçado colocado junto ao tórax cujo objetivo era proteger o peito e as costas do soldado. Em um certo sentido, a couraça era uma "segunda pele".

Do ponto de vista teológico, essa peça aponta para a justificação. O sangue de Jesus na cruz do Calvário nos justificou. Assim, nossos pecados foram pagos e, pela fé, nos tornamos justos diante de Deus. Não há o que temer diante do Seu Tribunal. O diabo perdeu o direito legal de nos acusar de modo não pesar nenhuma acusação contra os eleitos de Deus (Romanos 8.32). O escrito da dívida que era contra nós foi cancelado (Colossenses 2.14).

Estarmos revestidos da couraça da justiça significa estarmos vivendo uma vida de santidade. Deixamos o pecado, todavia, pecamos. Assim, devemos estar sempre aos pés da cruz clamando pela misericórdia de Deus. Por isso, bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça porque serão fartos (Mateus 5.6).

A armadura de Deus: o cinto da verdade

LEIA: Efésios 6.14

As duas primeiras peças da armadura as quais Paulo descreve são o cinto da verdade e a couraça da justiça. São peças fundamentais, não por acaso, ele as relaciona com firmeza, estabilidade (Efésios 6.14). Isso se deve, certamente, pelo profundo significado teológico que elas contém.

Na armadura, o cinto é uma das últimas peças a ser colocadas pelos soldados. Sua importância reside no fato de que essa peça segura as demais. Do ponto de vista teológico, a verdade aponta para a pessoa de Jesus Cristo (João 16.14), o logos de Deus (João 1.1). Refere-se, pois, à Palavra de Deus (João 17.17). Em última instância, revela-se em uma arma extremamente poderosa para se combater a mentira, cujo pai é o diabo (João 8.44).

Assim, a orientação é para que andemos na verdade (3João 1.4) abandonando, assim, uma vida de engano e mentiras (Efésios 4.20-25) e para que tomemos a Palavra de Deus como verdade absoluta combatendo, dessa maneira, todo relativismo presente em nossa época. Em suma, a orientação de Paulo é: apertem os cintos!