27/04/2016

O Rei vai bater à sua porta

LEIA: 2Samuel 6.1-12

Uma tragédia acabou sendo a causa de uma visita inusitada do Rei Davi à casa de Obede-Edom. A arca estava sendo levada à Jerusalém em cima de um carro de boi. Ao chegar à eira de Nacom, o bois tropeçaram e Uzá, filho de Eleazar e neto de Abinadabe, estende a mão para impedir que a arca caia. Ao tocá-la porém, Uzá é fulminado. Davi fica desgostoso e teme. Desiste de levar antes, vê-se obrigado deixá-la na casa de Obede-Edom. 

Mas por que a tragédia? Um culto ao Senhor poderia desagradá-lo a ponto de manifestar a sua ira de uma forma tão terrível? O que aconteceu de fato? Eis algumas razões:

1) Davi consultou o povo e não a Deus (1Crônicas 13.1-4);
2) Davi trouxe a arca imitando os filisteus (2Samuel 6.3 cf. 1Samuel 6.7);
3) Davi não foi advertido por Uzá e Aiô (cf. 2Crônicas 26.16-20).

Resultado: tragédia. E, é justamente nesse momento que entra em cena Obede-Edom. O Rei atemorizado bate à sua porta para deixar a arca sob seus cuidados. O nome Obede-Edom parece significar "servo do homem". O adjetivo geteu, por sua vez, deve ser entendido como uma referência a cidade levítica de Gate-Rimom em Dã ou Manassés (Josué 21.20-25). Na casa de Obede-Edom a arca permanece por três meses. O Senhor abençou a sua casa e tudo o que ele tinha (1Crônicas 13.14). Diferentemente de Abinadabe, Obede-Edom tratou com a devida reverência as coisas de Deus. Buscou a comunhão com o Senhor, não imitou os filisteus e não agiu indiferentemente diante do sagrado. Deus se agradou de suas atitudes e foi gracioso com a sua casa.

O Rei Davi, o saber que Obede-Edom havia sido abençoado por amor a arca de Deus, bate novamente a sua porta. Mas dessa vez não foi por conta de uma tragédia e sim por conta das graças de Deus sobre aquela casa. O Rei que outrora batera a porta triste e atemorizado dessa vez, o faz com alegria. Ele sabia que as bençãos eram as provas de que a ira de Deus havia sido aplacada. A arca foi levada para Jerusalém mas, agora, de forma correta (1Crônicas 15.2, 14, 15).

Mas o que aconteceu com Obede-Edom? Obede-Edom seguiu para Jerusalém junto com o cortejo. Não poderia mais ficar distante da glória de Deus. Na Cidade de Davi, foi inicialmente designado porteiro (1Crônicas 15.18) e depois, músico diante na Tenda da Congregação (1Crônicas 16.4,5). Além de cuidar da arca a bênção divina incluía filhos (1Crônicas 26.4,5). Estes, ficaram responsáveis para cuidar da porta sul do templo do Senhor, justamente defronte do palácio do Rei. A porta sul portanto, seria a principal usada pelo rei. Tal destinação reflete certamente uma honraria especial para Obede-Edom (1Crônicas 26.15).

Ao receber o Rei em sua casa a vida de Obede-Edom é transformada. Antes, um homem esquecido vivendo em um casebre à beira da estrada mas depois dessa visita, um homem abençoado e próspero. Mas lembremo-nos que essa visita foi causada por uma tragédia. Mas Deus virou essa sorte. Onde havia morte, houve vida. Onde havia desgraça, houve graça. O Rei esta à porta mas, cabe a nós, portanto, abri-la e desfrutarmos da gloriosa presença de Deus em nossas vidas. 

06/04/2016

O apólogo de Jotão em três perspectivas

LEIA: Juízes 9.7-15

Abimeleque, filho de Gideão com uma escrava, procura reestabelecer o culto cananeu entre o povo de Israel após a morte de seu pai. Para isso, ele convenceu os cidadãos de Siquém a seguí-lo em detrimento dos setenta filhos de Gideão. Com a ajuda de alguns homens, pagos com a oferta do templo de Baal, Abimeleque foi à casa de seu pai em Ofra e matou os seus irmãos para assim, tornar-se rei. No entanto, ele não esperava que Jotão, filho menor de Gideão, havia escapado do extermínio porque se escondera a tempo. Este, após tomar conhecimento que Abimeleque havia sido proclamado rei, sobe ao topo do monte Gerizim para dirigir-se ao povo de Siquém. Para ilustrar sua mensagem, Jotão utiliza-se de uma parábola (uma das poucas contidas no AT) que, por sua vez, ficou conhecida como o Apólogo de Jotão. Vamos aqui, ler esse estória a partir de três perspectivas:

1. ÁRVORES EM GERAL: A árvores queriam ungir sobre si um rei. Para tanto abordaram a oliveira, a figueira e a videira. Todas se recusaram! Apressadamente, escolheram como rei o espinheiro, arbusto farpado típico das colinas da Palestina e uma ameaça à agricultura que, por sua vez, não produzia nenhum fruto de valor. Assim, quando não sabemos esperar corremos o risco de atrair para nossas vidas coisas sem valor e improdutivas, que podem nos sufocar e até nos destruir;

2. ÁRVORES BOAS: As árvores boas -  oliveira, figueira e videira - recusaram o convite. Estavam por demais ocupadas com interesses próprios e não quiseram abrir mão deles em favor das demais árvores. Eximiram-se das suas responsabilidades. O espinheiro assim, sendo rei sobre todas as árvores, acabou também por dominá-las. Portanto, quando focamos apenas em nossos interesses e nos eximimos das nossas responsabilidades acabamos por prejudicar a todos, incluindo a nós mesmos. Aqui cabe as palavras de Martin Luther King: "O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons";

3. O ESPINHEIRO: É um arbusto e não uma árvore. Por sua vez, representa os efeitos da maldição sobre a terra (Gênesis 3.17,18). No AT, a palavra espinho pode designar figuradamente inimigo (e.g. Números 33.55). Portanto, representa destruição. Na parábola, o espinheiro é símbolo de oportunista pois aproveita-se da situação. Assim, devemos sempre reconhecer um espinheiro em meio às árvores e evitá-lo e, sobretudo, evitarmos ser como ele.

Através dessa parábola, Jotão tentou trazer o povo à consciência e a rever suas atitudes. Depois disso, Jotão viu-se obrigado a fugir. No entanto, o povo demorou três anos para reagir. Erraram mas reconheceram o erro. Demoraram-se todavia, para corrigir o erro. Dito isso, cabe mais uma lição para nós: corrigir nossos erros o mais rápido possível.